A B3, bolsa de valores de São Paulo, lançou em meados do mês passado o IDiversa B3, novo índice do mercado de capitais brasileiro que visa reconhecer o respeito e a valorização da diversidade de gênero e raça nos processos de gestão de empresas de capital aberto.
Para serem elegíveis, as companhias devem ter, no mínimo, uma mulher, uma pessoa negra ou uma pessoa indígena no Conselho Administrativo e na Diretoria Estatutária. Além disso, a representatividade de pessoas diversas dentro da empresa deve se destacar em relação ao setor ao qual pertence, permitindo que empresas sejam comparadas dentro de seus campos de atuação. Segundo a B3, a expectativa é que os critérios de elegibilidade se tornem cada vez mais rígidos com o passar dos anos.
A iniciativa de se oferecer aos investidores mais um referencial para se avaliar empresas à luz dos aspectos ESG (ambiental, social e governança), com destaque para a dimensão social dessa agenda é mais do que bem-vinda e vem a se somar com outras medidas do mercado de capitais do País voltadas a esse propósito, como a Instrução CVM 480/09, de dezembro de 2021, que obriga as companhias brasileiras a apresentarem, a partir deste ano, informações relacionadas à diversidade do corpo de administradores e empregados.
Não é ao acaso que o mundo corporativo em nível nacional e mundial vem dedicando cada vez mais atenção e recursos ao tema. Pesquisas de mercado e estudos acadêmicos têm ressaltado consistentemente a conexão entre diversidade e resultados superiores.
De acordo com uma pesquisa realizada pela McKinsey & Company, empresas com maior diversidade de gênero têm 21% mais chances de superar a concorrência em rentabilidade. Além disso, a diversidade em equipes de liderança tem sido associada a uma tomada de decisão mais inovadora e abrangente, considerando uma gama mais ampla de perspectivas.
Para o EGAL – Centro de Equidade, Gênero e Liderança da Escola de Negócios da Universidade de Berkeley, Califórnia, o status quo nos negócios acaba por criar barreiras limitantes e prejudiciais para certas pessoas – relacionadas ao gênero, raça, orientação sexual etc. O mundo dos negócios tem, portanto, sua responsabilidade na perpetuação das desigualdades e os líderes empresariais devem ser parte da solução para enfrentar as desigualdades sistêmicas na sociedade.
O EGAL elaborou um business case sobre diversidade a partir da análise de mais de uma centena de artigos e relatórios científicos publicados ao redor do globo. Os estudos abordavam questões relacionadas à diversidade, como raça, gênero, idade, nacionalidade, orientação sexual, etnia, educação em diferentes setores e tipos de organizações.
Como resultado, os pesquisadores da EGAL consolidaram as principais conclusões daqueles estudos que evidenciaram que empresas que respeitam e valorizam a diversidade possuem:
- maior capacidade geral de reconhecer políticas/práticas internas prejudiciais, mitigar riscos e manter a conformidade legal;
- maior acesso a mercados mal servidos / participação de mercado geral e melhor adequação do produto / mercado através de uma melhor compreensão das necessidades dos clientes;
- maior satisfação no trabalho, menor rotatividade e maior engajamento dos funcionários por meio da criação de um ambiente mais inclusivo
- capacidade ampliada das equipes de trabalhar juntas de forma mais eficaz por meio de maior inteligência coletiva, segurança psicológica e aprendizado mútuo; e
- incremento na apresentação de patentes e novas ofertas de produtos devido a uma abordagem interdisciplinar para a resolução de problemas e abertura às contribuições de trabalhadores.
Concluindo, a iniciativa da bolsa de valores brasileira em lançar o IDiversa B3, ainda que em seus estágios iniciais, é um passo importante na direção da promoção da diversidade e inclusão no mundo corporativo nacional e alinhada às melhores práticas em nível internacional. Favorece às empresas brasileiras tanto condições de percepção e de melhor compreensão da importância de se adotar práticas de diversidade, quanto para se colher seus benefícios tangíveis em termos de inovação, tomada de decisão e desempenho empresarial que apresentamos neste artigo.
Cabe, contudo, uma reflexão final: respeitar e valorizar aspectos relacionados à promoção da diversidade e da inclusão, mais que um benefício às condições de competitividade, como comprovado pelos estudos indicados, é um imperativo moral. Como costumo dizer, adotar na sociedade em geral e no mundo dos negócios em particular os mesmos princípios da “lei da selva” ou da “lei do mais forte” é um desperdício inaceitável frente os milhões de anos de evolução que conferiram ao ser humano sua inteligência. Assim, mais que um diferencial mercadológico é, sobretudo, uma questão civilizatória. Caminhemos!
Wagner de Siqueira Pinto: linkedin.com/in/wagner-siqueira-19959624
Mestre em administração, certificado para conselheiro de administração – CCA- IBGC. Atua como consultor, mentor e professor em escolas de negócios em temas relacionados aos temas desenvolvimento sustentável e agenda ESG.
Fontes:
https://haas.berkeley.edu/equity/industry/efl-knowledge-bank/business-case-for-diversity/